sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Soito da Ruiva, ou o reencontro com as nossas raízes?

Soito da Ruiva é uma pequena aldeia a que restam 19 habitantes, em contraste com as 3 centenas que em tempos já teve. Localizada na Serra do Açor, concelho de Arganil, Soito da Ruiva fica perto de Piódão, paredes meias com as minas da Panasqueira e com a encosta da Serra da Estrela.


A história desta aldeia é-nos contada numa página Web de excelente recorte, onde cada um dos seus habitantes se converte em protagonista. Juntando suporte fotográfico, áudio, vídeo e texto, os actuais habitantes desfilam pelo site partilhando connosco os seus percursos de vida e as suas memórias.
Em boa hora o fazem, pois desta forma legam-nos um testemunho autêntico que nos permite ir ao encontro das nossas raízes e da nossa identidade rural. Pena é que não haja no site informação sobre os responsáveis por tão inovadora e meritória iniciativa, bem como algo mais que nos ajudasse a percepcionar os seus objectivos mobilizando-nos para a sua causa.
Registo também a ausência de informação de suporte ao usufruto turístico desta aldeia do Portugal profundo, mas tal não invalida que seja um bom local de destino para os autocaravanistas. No largo da aldeia existem boas condições de estacionamento para uma mão cheia de autocaravanas, e visitar Soito da Ruiva será certamente uma oportunidade de mergulhar na história da nossa identidade, recordando lendas, tradições, usos costumes e vivências colectivas de tempos perdidos que a memória desta gente generosa vai partilhando connosco.
Visitem o site, e estou certo de que depois disso não deixarão de agendar uma visita a Soito da Ruiva: http://www.soitodaruiva.com/
Para saber mais: soitodaruiva@gmail.com



Raul Lopes

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Descubra um Portugal Maior

Descubra um Portugal maior é o slogan da campanha de turismo interno oficialmente lançada na semana passada. O montante total investido é de 4 milhões de euros, 1,5 milhões nesta primeira fase.

Objectivo primeiro: sensibilizar os portugueses a fazerem férias em Portugal. Para isso serão vários os meios envolvidos.O Governo pretende envolver na campanha os operadores e empresas do sector, que o mesmo é dizer, pretende que eles apresentem propostas concretas de consumo que cheguem ao público por dois meios, as agências de viagens e o portal de turismo interno criado para efeito e acessível através da morada www.descubraportugal.com.pt. Ali estarão destinos regionais, recursos turísticos, propostas e promoções dos agentes do sector.

Porque é uma campanha direccionada ao público consumidor, irá recorrer-se a 6.500 muppis e outdoors em espaços públicos; publicidade na imprensa escrita, generalista e especializada, na televisão, rádios, transportes públicos, no cinema e em sites.A campanha vai durar até ao final do ano e vai mostrar “propostas de experiências surpreendentes”, com as imagens a darem a conhecer “equipamentos inovadores ao serviço dos turistas, que vão desde um Spa ao ar livre na serra do Gerês até à Casa da Música” passando pelas belas paisagens que recheiam o nosso país, de Norte a Sul, do Continente às Regiões Autónomas, mas sempre “vistas de ângulos pouco comuns”.A tudo isto se aliará uma série de fóruns de debate a realizar por todo o país. “Este é o primeiro momento, o momento em que se apresenta uma campanha a que se seguirá todo um conjunto de fóruns de debate que visam despertar esta consciência colectiva que é, sem ambiente de proteccionismos, promovermos o nosso país enquanto destino turístico”, afirmou o secretário de Estado do Turismo à margem da apresentação da campanha.

Fonte: Turisver

Face aos contactos estabelecidos pelo MIDAP junto do Turismo de Portugal, certamente que este organismo público vai usar uns trocos destes milhões para fazer uma rede nacional de áreas de serviço e de lugares de estacionamento reservados às autocaravanas.O respectivo mapa com os detalhes da informação só ainda não está no site do Turismo de Portugal porque ainda não está disponível o sinal com o pictograma de uma autocaravana que o Ministério da Economia encomendou depois de ter ficado profundamente sensibilizado com a exposição do MIDAP. Logo que exista o sinal todos os problemas do autocaravanismo ficarão resolvidos pois as autocaravanas serão devidamente arrumadas...nos parques de campismo!!!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Mendes Bota, a pesca lúdica... e o autocaravanismo

A Portaria 143/2009 publicada no passado dia 5 de Fevereiro, e que define os condicionalismos específicos ao exercício da pesca lúdica no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, tem provocado acesa polémica entre os praticantes desportivos.

Um dos deputados mais interventivos nesta questão tem sido Mendes Bota, que apresentou uma iniciativa parlamentar, questionando o Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, da legitimidade da legislação agora publicada e que pode ser lida aqui. O referido deputado tem também marcado presença em várias manifestações como a ocorrida no passado dia 15 em Sagres.


Será que é possível estabelecer algum paralelismo entre a situação dos pescadores lúdicos e o estacionamento de autocaravanas nas zonas de intervenção dos POOCs?

Se é, porque não intervém o Sr. deputado Mendes Bota nesta questão com a mesma determinação? ... para que serviu afinal a visita de tão "distinta e qualificada delegação" de autocaravanistas à Assembleia da República?

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Partida de Carnaval???

O Clube Autocaravanista do Norte mereceu destaque da FCMP aquando da sua formação. Na altura a Federação chegou a afirmar que a constituição deste clube representava mais um passo na afirmação do Movimento Autocaravanista...


Pouco mais de um ano após a sua fundação não seria altura de questionar a FCMP, o que de facto trouxe ao movimento autocaravanista o CAN?


E já agora, será o CAN realmente um clube português????

http://can-clubeautocaravanistadonorte.blogspot.com/

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Há um ano foi assim... o que fez o CPA entretanto?

Fez há algumas semanas atrás um ano que se realizou em Abrantes a Assembleia Geral do CPA. A Direcção de então apresentou no fórum do CPA o relatório que seguidamente reproduzimos.

Daqui a uma semana haverá nova AG do CPA onde cabe à Direcção prestar contas aos sócios. É óbvio para qualquer observador, mesmo desatento, que houve uma radical alteração na orientação seguida pela Direcção do Clube.
Foi abandonada a trajectória de afirmação institucional do CPA como legítimo representante do autocaravanismo, parecendo que a Direcção hesita entre ceder tal direito ao MIDAP ou à FCMP.

Abdicou-se do esforço de dar visibilidade ao Clube e ao autocaravanismo na comunicação social.

O Fórum que vinha sendo usado como instrumento de comunicação com os sócios e de abertura do Clube ao exterior, foi abandonado à sua sorte.

O combate pela dignificação da imagem social dos autocaravanistas foi completamente esquecido.

A promoção das vantagens materiais para os sócios limitou-se à colheita dos frutos do acordo feito com a Allianz-Castela&Veludo no mandato anterior.

A estratégia que vinha sendo construída no sentido de criar condições para a definição de legislação que enquadre o autocaravanismo e garanta os direitos dos autocaravanistas itinerantes foi abandonada, passando o CPA a subordinar-se à estratégia errante de Nandin de Carvalho.

O esforço de criação de novas áreas de serviço para autocaravanas foi abandonado pelo Clube, deixando tal tarefa a cargo de um vendedor de máquinas para AS (abandonando inclusivé os contactos institucionais onde havia expectativas de se criarem novas AS).

Em síntese, a actual Direcção de Ruy Figueiredo cortou com tudo o que de melhor se vinha fazendo pelo autocaravanismo. Mas já alguém se permitiu dizer que 2008 foi o melhor ano para o autocaravanismo. Aguardamos ansiosamente pelo Relatório de Actividades a submeter à AG para perceber o que fez afinal o CPA que justifique tal avaliação. Será por 2008 ter deixado os autocaravanistas mais próximos do que nunca de serem obrigados a refugiar-se nos parques de campismo?

Relatório sintético da actividade da Direcção do CPA em 2006 e 2007

Sem desprimor para o trabalho feito por outros, qualquer observador atento reconhecerá que em matéria de afirmação institucional do CPA, de visibilidade pública do autocaravanismo e de dignificação da imagem social dos autocaravanistas, se fez mais nestes dois anos do que nos restantes quinze. O mesmo se pode dizer no que se refere à promoção de áreas de serviço para autocaravanas ou no que concerne à luta contra as proibições de estacionamento. As condições do Protocolo de Seguros que assinámos falam por si. Cerca de 3 centenas e meia de novos sócios nestes dois anos são bem o testemunho da correcção do rumo que seguimos.Recordemos as principais realizações da responsabilidade desta Direcção.

1. Mantivemos a tradição do Clube organizando 12 eventos de confraternização dos sócios (o dobro da média anual dos últimos anos):

• Em 2006: Encontro do Cartaxo, Encontro de Castanheira de Pêra e Encontro da Murtosa, Passeio pelo Alto Tejo;

• Em 2007: Encontro do 16º Aniversário-Alenquer; Encontro da Nauticampo-Lisboa; Encontro de Abrantes; Acampamento da Ericeira; Passeio pela Serra de Montemuro; Inauguração da Área de Serviço da Batalha, de Abrantes e de Pedrógão;

2. Iniciámos o processo de reorganização interna do Clube, acertando o passo com a sociedade informatizada do nosso tempo(uma nota de reconhecimento para o esforço que a Amélia Reis fez para se adaptar às exigências da informática e da Internet)

• Actualizámos (pela 1ª vez) o ficheiro de sócios e reformulámos a ficha de sócio. Alteramos os procedimentos de gestão do ficheiro de sócios, acabando com o ficheiro em papel;

• Redefinimos os procedimentos contabilísticos, passando a contabilidade a fazer-se integralmente em suporte informático;

• Passámos a comunicar regularmente com os sócios através de e-mail;

• Registámos em nome do Clube um domínio na Internet, criámos e mantivemos nós mesmos uma página do CPA na Internet, qual janela do Clube aberta ao Mundo;

• Criámos uma Base de Dados sobre Áreas de Serviço e locais de pernoita acessível aos sócios via Internet;

• Criámos uma aplicação informática que permite a qualquer um fazer-se sócio do Clube através da Internet (mais de uma centena apenas em 6 meses);

• Criámos o Fórum-Autocaravanismo que passou a ser instrumento privilegiado de comunicação com os sócios e com os autocaravanistas em geral. Este fórum é actualmente uma espécie de ponto de encontro obrigatório dos autocaravanistas, registando entre 50 e 60 mil visitas mensais.

3. Abrimos o Clube ao Mundo e começámos a construir o prestígio institucional necessário para que o CPA seja visto como uma referência pela generalidade dos autocaravanistas e como um parceiro credível na defesa dos interesses dos autocaravanistas por parte das autoridades oficiais

• Durante este mandato foram enviadas às mais diversas entidades e à comunicação social cerca de uma centena de documentos com Comunicados de Imprensa, tomadas de posição institucional, esclarecimentos técnicos, propostas de parceria, etc. Há 391 Autarquias e 413 jornalistas que passaram a receber regularmente informação sobre as actividades do CPA.

• O Boletim oficial do CPA sofreu uma profunda reestruturação tanto do ponto de vista gráfico como do seu conteúdo e dimensão, adquirindo uma dignidade que lhe faltava, com o que se conquistou para o Clube uma nova imagem institucional e se aumentou o potencial de obtenção de patrocínios publicitários.

• Os protocolos assinados com a ExpoBatalha, a Exponor-Natura e com a FIL-Nauticampo permitiram ao CPA passar a dispor de um stand próprio digno e gratuito em todas as grandes feiras-exposições de autocaravanismo em Portugal, aí se dando a conhecer e aí acolhendo os sócios. A Expo-Natura ostentou o símbolo do CPA nos seus cartazes de promoção. Imaginam qual é o valor comercial destes protocolos?

• Criámos a CARTA de AUTOCARAVANISTA, com tudo o que ela encerra de simbólico.
• Colaborámos com a revista espanhola El Camping y su Mundo na elaboração de um Guia de Áreas de Serviço na Península Ibérica, que contribuirá não só para divulgar o CPA além fronteiras como para promover o autocaravanismo em Portugal.

• Contribuímos activamente para que se tenha falado mais de autocaravanismo na sociedade portuguesa durante este dois anos do que em todos os 25 anos anteriores juntos. As quase 7 mil mensagens no Fórum, as reportagens do jornal Público e a entrevista dada à rádio TSF são apenas os exemplos mais marcantes onde o CPA e o autocaravanismo mereceram um destaque nacional sem precedentes.

4. Contribuímos decisivamente para a abertura de uma nova página nas condições em que se pratica o autocaravanismo em Portugal. Por força do trabalho de credibilização institucional do CPA, não só passámos a ser escutados enquanto representantes dos interesses dos autocaravanistas, como passámos a ser reconhecidos enquanto parceiro estratégico. Isso permitiu que as condições para se praticar o autocaravanismo em Portugal tenham conhecido um sério e decisivo impulso, ao mesmo tempo que reforçámos as vantagens materiais oferecidas pelo Clube aos sócios. São disso exemplo:

• O acordo negociado com a Allianz e a Castela&Veludo que veio revolucionar o mercado português de seguros de autocaravanas. Muitos sócios passam a poupar num só ano mais do que aquilo que pagaram de cotas ao CPA em toda a sua existência (isto caso tenham sido sócios fundadores). Por isso este acordo é também uma garantia de financiamento permanente do Clube, pelos novos sócios que irá trazer ao CPA. É a garantia de viabilidade financeira do Clube. Mas não é só o Clube que ganha, mesmo os nossos detractores ficam a ganhar. Não fosse o nosso trabalho e todos os autocaravanistas continuariam a pagar o dobro do que pagamos agora pelo seguro da autocaravana.

• Quando iniciámos funções havia em Portugal 2 áreas de serviço para autocaravanas de acesso não condicionado. Hoje existem 15 (sem contar com os espaços fechados dos campings).Por força dos protocolos que criámos passámos a ter em Portugal áreas de serviço em campings que estão abertas aos autocaravanistas sem necessidade de pernoitarem no parque, o que é uma inovação. Inovação é também o azulejo de certificação, que além do mais é uma montra de publicidade ao CPA. Agora até se diz que é fácil criar uma área de serviço, até parece que elas nascem como os cogumelos. Então porque não surgiram elas nos últimos 15 anos? Alguém acha que seria tão fácil como o é agora criar uma área de serviço se não fosse o projecto técnico que elaborámos, a apresentação que dele fizemos a quase 4 centenas de Autarquias Locais, a forma como gerimos a imagem pública do CPA e das inaugurações entretanto realizadas? Há mais de 10 anos que no CPA e na Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal se tentava definir um Projecto de Área de Serviço. Nós fizêmo-lo e encontrámos parceiros para o concretizarem. Poder-se-ia ter ido mais longe, mas infelizmente houve que “deixar cair” quase 2 dezenas de processos de negociação em curso para a criação de outras tantas áreas de serviço. Apesar disso, nos próximos meses seremos chamados a estar presentes na inauguração da área de serviço de Moncorvo, na de Nelas e na de Coimbra (sim, leu bem: Coimbra, na margem do Mondego).

• Os primeiros passos no dossier legal foram dados com as diligências junto da GNR da PSP da DGV e do Provedor de Justiça. Tais diligências, no sentido de esclarecer as condições jurídicas da prática do autocaravanismo em Portugal, foram a partir de certa altura interrompidas por falta de condições internas para prosseguir o rumo definido. Mafra é uma boa ilustração: apesar do apelo feito, quantos foram os sócios que transmitiram à Câmara o seu apoio à proposta que a Direcção do Clube colocou à consideração da Câmara e da Assembleia Municipal? Nenhum!

À luz da experiência vivida pela Direcção que hoje cessa funções, cabe agora aos sócios reflectir seriamente sobre o rumo que querem para o Clube. Em particular impõe-se avaliar se o movimento autocaravanista português, e o CPA em particular, estão preparados para enfrentar a batalha da institucionalização jurídica do autocaravanismo em Portugal.


A Direcção do CPA
Ruy Figueiredo, presidente
Raul Lopes, vice-presidente
Emidio Campos, tesoureiro
Abílio Mira
Nuno Ribeiro
Vitor Santos

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O que a Lei não define não existe

Começo por sublinhar que não estive presente no Colóquio sobre o “Autocaravanismo e as Leis Actuais” realizado no passado dia 13 de Fevereiro. E não estive pois este realizou-se ao princípio da tarde num dia de semana. Para os autocaravanistas e demais interessados neste assunto teria sido mais útil marcar este Colóquio para um período pós-laboral, mas percebo que para a organização tenha sido mais confortável ter uma assistência reduzida.

Apesar de não ter estado presente, é possível começar a formar opinião sobre a forma como decorreu esta iniciativa pelos relatos dos participantes que vão aparecendo nos blogs e fóruns. Partindo do pressuposto que o que é referido é verdade (e objectivamente não tenho razões para pensar o contrário), podemos constatar o seguinte:

1 – A organização deste colóquio foi sui generis...

A organização coube ao CPA, a pedido da FCMP e teve como presidente da mesa do colóquio o CCL, apesar de tanto o presidente do CPA como da FCMP se encontrarem na mesa do colóquio!!!! Parece que o CPA fez um frete à Federação ao aceitar surgir como organizador quando afinal foi um simples criado: não moderou o debate nem teve palavra a dizer na escolha dos oradores, não apresentou qualquer ideia relevante. Desta forma a associação do CPA ao colóquio parece apenas ter servido para a FCMP mostrar serviço "enquanto entidade que tutela o autocaravanismo". E o CPA mostrou-se obediente a esta estratégia.

2- As intervenções foram as esperadas

A primeira da responsabilidade de José Iglésias González, um dos fundadores do Clube Autocaravanista do Norte, o tal clube que exige a posse da Carta de Campista para se ser associado, fez uma exposição onde campismo e autocaravanismo se confundem constantemente. Uma posição coerente se levarmos em conta o que este orador vem escrevendo no seu blog. Este tipo de intervenção não é de modo nenhum útil ao autocaravanismo enquanto turismo itinerante. Já nos bastam os péssimos trabalhos jornalísticos que insistem nesta confusão. A não ser que a organização do colóquio entenda benéfica para as suas intenções e objectivos alimentar esta confusão...


Seguiu-se a intervenção do consultor da FCMP que deixarei para o fim pois aproveitarei para a partir dela mais uma vez voltar a abordar a já célebre Portaria 1320/2008.

A 3ª intervenção esteve a cargo da representante da ACAP, que revelou a constituição de uma surpreendente “plataforma sectorial” constituída pelo triunvirato ACAP-AECAMP-FCMP. Haverá dúvidas sobre as pretensões desta Plataforma e ao que ela nos levará?


A última intervenção da responsabilidade do CPA, revelou mais uma vez a confrangedora falta de ideias e projectos da actual direcção. Em vez de abordar os mais recentes desenvolvimentos e expor o que pensa o maior clube de autocaravanismo português, a intervenção foi dedicada à exposição da história do CPA... Mais uma oportunidade enjeitada para quem deveria ter pretensões de liderar o movimento autocaravanista português.

Para último deixei a análise da intervenção do consultor para a área jurídica da FCMP. A actividade dos profissionais de Direito é uma actividade muito particular e muito diferente das demais. Estes profissionais trabalham e desenvolvem a sua actividade em função daquilo que lhes é pedido pelos seus clientes.

Alegadamente o advogado da FCMP terá referido que “o que a Lei não proíbe é permitido” de modo a justificar que a Portaria 1320/2008 só se aplica ao campismo e que nada impede por isso que os autocaravanistas pernoitem na via pública, ao contrário do que referiu um dos dirigentes da FCMP no Verão passado e o que defende a direcção da AECAMP...

Na mesma linha, eu que não sou advogado, jurisconsulto nem mesmo estudante do 1º ano de direito, diria o que a lei não define não existe... Confuso???

Nada mais simples de justificar.

Se fizermos uma simples análise comparativa entre o projecto de diploma que esteve em discussão pública e a versão final da portaria 1320/2008 veremos que as alterações significativas se reflectem no artigo 29º:

O artigo na versão de projecto era o seguinte:

Artigo 26º - Parques de caravanismo exclusivamente destinados a autocaravanas
1 - Nos parques exclusivamente destinados a autocaravanas pode ser dispensada a existência dos equipamentos de utilização comum previstos no artigo 11.º, salvo os previstos nas alíneas a) a c) do número 1 e no número 3 do mesmo artigo.
2 – As áreas de serviço previstas no número 4 do artigo 11º são obrigatórias nos parques de caravanismo exclusivamente destinados a autocaravanas.
3 - As estações serviço referidas no número 3 do artigo 11º devem estar revestidas com materiais impermeabilizados e dispor de equipamento próprio para: a) Escoamento de águas residuais; b) Esvaziamento de WC químico/Sistema de lavagem e despejo de cassetes sanitárias de autocaravanas; c) Abastecimento de água potável; d) Despejo de resíduos sólidos urbanos.

Na versão final passou a:

SUBSECÇÃO II
Espaços destinados exclusivamente a autocaravanas
Artigo 29.º
Áreas de serviço
1 — São áreas de serviço os espaços sinalizados que integrem uma ou mais estações de serviço, equipadas nos termos do artigo 27.º, destinados exclusivamente ao estacionamento e pernoita de autocaravanas por período não superior a setenta e duas horas.
2 — As áreas de serviço que não se encontrem integradas em parques de campismo e de caravanismo ficam obrigadas apenas ao cumprimento do disposto nos artigos 7.º, 8.º, 10.º, n.os 1, 2, 3 e 5, 12.º, 14.º, 20.º e 24.º a 26.º da presente portaria, com as necessárias adaptações.
3 — As áreas de serviço não integradas em parques de campismo e de caravanismo devem dispor de serviço de recepção presencial ou automático disponível vinte e quatro horas por dia.

Ou seja, o espírito que presidiu à elaboração da portaria 1320/2008 foi radicalmente alterado quando se passou do projecto de diploma para a versão final. Após o período de consulta pública, foi publicamente revelado que tanto a FCMP como o MIDAP intervieram para alterar o conteúdo do diploma e que após a sua publicação vieram congratular-se pelo resultado obtido. Terão os autocaravanistas razões para agradecerem estas intervenções?

O que inicial e claramente indicava um parque de campismo só para autocaravanas (Parques de caravanismo exclusivamente para Autocaravanas), foi substituído por uma denominação que abarca todas as zonas (quer sejam dentro ou fora de um parque de campismo) onde podemos ter infra-estruturas para o autocaravanismo.

De facto esta portaria não proíbe por si só, o estacionamento de autocaravanas, nem a pernoita, fora de parques de campismo (sejam eles mini ou maxi), mas apresenta um facto igualmente grave. Esta legislação faz com que pela primeira vez se aborde o fenómeno do autocaravanismo, misturando-o perigosamente com a actividade campista (na realidade apresenta o autocaravanismo como uma forma de campismo, tal como a utilização de tendas e caravanas), não deixando espaço para a prática do autocaravanismo como turismo itinerante. Isto significa que por extrapolação se considere a pernoita de autocaravanas fora dos parques de campismo (à semelhança do que acontece para as tendas e caravanas) como campismo selvagem.


Outro facto também grave é que desde a publicação desta portaria as AS desenvolvidas de acordo com o projecto técnico do CPA e que não estejam dentro de parques de campismo passam a estarem fora da lei. Não será de forma nenhuma especulativo, afirmar que finalmente as câmaras municipais tem na mão um importante instrumento castrador da liberdade dos autocaravanistas. Agora sim, será ainda mais fácil (e legalmente legitimo) elaborar regulamentos municipais de trânsito onde se definem os locais em que as autocaravanas podem (e devem) pernoitar como os parques de campismo ou as AS definidas de acordo com a Portaria 1320/2008. Caiem por terra os legítimos argumentos dos autocaravanistas da ilegalidade das proibições de estacionamento (apenas estacionamento!!!) contidas nos regulamentos municipais, em que apenas se proibia as autocaravanas, quando na realidade estes regulamentos deveriam proibir apenas classes de veículos...

O que a Lei não define não existe. Ou seja, neste momento na legislação nacional, o autocaravanismo está definido apenas e só como uma forma de fazer campismo. E esta definição de autocaravanismo abarca não só as autocaravanas quando estão nos parques de campismo, mas também quando não o estão. O que faz com que a legislação sobre o autocaravanismo esteja "fechada", leia-se a actividade do autocaravanismo encontra-se regulamentada.
Antes da Portaria 1320/2008, o estacionamento e pernoita de autocaravanas, apenas se encontrava condicionado pelo código da estrada (e regulamentos municipais de trânsito) e pelos diplomas que envolviam os POOCs. Actualmente, o estacionamento continua a ser condicionado pelo código da estrada (e regulamentos municipais de trânsito) e pelos vários POOCs, estando a pernoita condicionada a estes espaços destinados exclusivamente a autocaravanas, tal como define a referida Portaria.

Para finalizar, é de realçar que este colóquio parece ter tido o condão de finalmente abrir os olhos aos autocaravanistas. Pelo que se vai lendo nos fóruns e blogs relacionados com o autocaravanismo podemos concluir que aquilo que aqui vamos dizendo e alertando há muito tempo, está a ser repetido um pouco por todo o lado. E era tão bom que não tivessemos razão...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Nauticampo2009: Um (mau) sinal dos tempos!

A edição deste ano da Nauticampo, sempre considerada, em Portugal, a maior e melhor feira em matéria de autocaravanismo, (entre outras actividades de lazer e “ar livre”), deixou muito a desejar.

Reflectindo, certamente, a actual crise económica mundial e, em particular, a crise que afecta os portugueses, esta exposição esteve longe de outros tempos.

O “desânimo” - descrença e incerteza - assolou os expositores, que apostaram o mínimo na sua presença e, a própria organização, receando, também, um fiasco em termos de visitas, foi desta vez pródiga na distribuição, via internet e mesmo postal, de entradas gratuitas para o certame.

Foram notadas ausências de algumas marcas que marcaram presença significativa em anos anteriores e que até tinham tido alguma penetração no nosso mercado, como foi, por exemplo, o caso da Joint.


Notada foi, também, a “maior” presença de algumas marcas “novas”, ditas “brancas”, embora isso não transpareça à partida, e que são resultantes da crise que atravessa o sector. Aumentou, claramente, o número das marcas que, com créditos firmados na gama média e alta, recorrem a este estratagema para, por um lado limitarem a desvalorização da "imagem de marca" dos seus produtos tradicionais, e por outro, procurando minimizar as quebras na facturação e na penetração num mercado em regressão forçada, que se espera limitado no tempo.
O aparecimento dessas marcas “alternativas” acabou por ser, talvez, o facto mais saliente e “inovador” de uma feira marcada pela “indiferença”. Sinal dos tempos.

Resta observar que a disposição do certame foi muito confusa, misturando-se amiúde, as autocaravanas (e caravanas) com as tendas e a oferta das casas pré-fabricadas destinadas à implantação e/ou aluguer em parques de campismo ou resorts similares, além de outros veículos com características mais próximas da uma utilização extra-urbana.





Se quiséssemos um quadro de confusão entre campismo e autocaravanismo, não precisavámos de ir mais longe!

Uma palavra, também, para assinalar a presença algo escondida do CPA, num canto de fundo, situação que tentou colmatar usando, por cima do stand, um placard identificativo maior, para minimizar a sua localização desfavorável.
A presença da Allianz e da FCMP ladeando as entradas do pavilhão dedicado à “mixelânia” que descrevi acabavam por ser os stands mais bem localizados, tendo aquela seguradora, fortemente ligada ao autocaravanismo, por via do seu protocolo com o CPA, tido a companhia da revista “El Camping e su Mundo” que distribuíu, uma vez mais, de forma gratuíta, o último número onde, como já foi observado nesta tribuna, reproduzia a posição da Tribuna Autocaravanista a propósito da portaria 1320/2008.
Uma pequena nota para referir a limitada percepção que se podia tirar da “presença” do projecto “Portugal Tradicional”, cujo desenvolvimento poderia ser positivo, mas que requeria uma maior visibilidade, que a mera presença com um cartaz torna demasiado limitada.



Finalmente, resta esperar que os efeitos nefastos desta crise se esfumem, para que o mercado do autocaravanismo possa voltar à “normalidade”, e que, entretanto, não se adense o nevoeiro que paira sobre a liberdade do autocaravanismo como forma de turismo itinerante, particularmente, se nos dermos conta das movimentações de entidades com forte pendor comercial como a ACAP e a AECAMP, que “co-ligados” com sectores associativos com uma “filosofia” muito próxima, como a FCMP (e o ACP não?), pretendem criar uma “plataforma” de interesses comuns de duvidosa utilidade para os os autocaravanistas “nómadas”.


Laucorreia

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Contra o acantonamento dos autocaravanistas nos campings

No Verão passado fomos surpreendidos por algumas propostas constantes no primeiro estudo oficial sobre autocaravanismo em Portugal: um relatório da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Alg).

Oportunamente contestámos a ideia de encurralar os autocaravanistas nos Parques de Campismo e lançámos um apelo na Internet à mobilização dos autocaravanistas. Em poucos dias reuniram-se 555 assinaturas, que subcreveram os comentários entretanto enviados à CCDR-Alg.

O Verão aproxima-se e este dossier parece ter caído em saco roto. Por isso, e por outros sinais preocupantes que entre nós se vão revelando, parece-nos oportuno relembrar aqui o que então escrevemos.


CARTA DIRIGIDA À CCDR

Exmº Sr. Presidente da CCDR-Algarve, Dr. João Varejão Faria

Assunto: Apelo à revisão de conteúdo do Relatório de Caracterização do Autocaravanismo na Região do Algarve.

Exmº Sr. Presidente,
Somos um grupo de 555 cidadãos que partilha a paixão pelo autocaravanismo. Conscientes das dificuldades existentes para a sua prática salutar no país, e especialmente no Algarve, foi com enorme expectativa que tomámos nota do anúncio de que a CCDR-Algarve iria realizar um estudo com vista a identificar os problemas e as vias de solução para o autocaravanismo na Região. Agora que o estudo se encontra em fase pública de apreciação, queremos endereçar-lhe os parabéns pela iniciativa, mas igualmente transmitir-lhe a enorme apreensão com que lemos algumas das passagens do referido relatório. Por isso lhe fazemos o público apelo a que a actual versão do texto seja revista, cotejando-a com os comentários na especialidade que se enviam em anexo. Estamos certos de que o Sr. Presidente se não revê no teor das propostas feitas na parte final do estudo (pp.126-129) que objectivamente advogam a proibição das autocaravanas pernoitarem fora dos campings ou das ”áreas de serviço”, aqui concebidas como algo que se assemelha a locais de acantonamento. Tais orientações vão exactamente no sentido contrário do tratamento que o assunto vem merecendo nos diversos países da Europa onde o autocaravanismo tem maior expressão: França, Alemanha, Reino Unido, Itália e Espanha. Nos termos do próprio estudo o autocaravanismo no Algarve já representa actualmente 1 milhão e 200 mil dormidas, assim como a injecção de cerca de 50 milhões de euros na economia regional. Valores que tenderão a subir rapidamente por estarmos perante o segmento de turismo que mais cresce na Europa. A CCDR-Algarve não quererá desperdiçar este contributo para o desenvolvimento regional tornando-se na única região da Europa desenvolvida onde os autocaravanistas são forçados a viver em regime de acantonamento, tipo campo de refugiados. Até pelo marketing negativo que isso traria à Região. Pelo contrário, a adopção conjunta das propostas que sugerimos no nosso texto (criação de infra-estruturas de perfil diverso e dispersas pela Região acompanhadas de normas clarificadoras que distingam “pernoitar” de “acampar” e prevejam a punição de comportamentos ambientais irresponsáveis) colocará o Algarve como uma Região pioneira na Europa no que toca às condições de acolhimento aos autocaravanistas. Os autocaravanistas, portugueses e europeus, são generosos e não deixarão por mãos alheias a divulgação da Região além fronteiras, dando corpo à campanha de marketing territorial mais barata que alguma vez se terá feito do Algarve. Em nome de todos os subscritores, apresento-lhe os meus cordiais cumprimentos

Raul Lopes


APELO AOS AUTOCARAVANISTAS PORTUGUESES PARA ASSINAREM A PETIÇÃO COLOCADA A SUFRÁGIO

Companheiro, junte-se a nós na luta Contra o Aprisionamento dos Autocaravanistas nos Campings do Algarve. Assine a petição online: http://www.petitiononline.com/ccdra501/petition.html
Companheiro, A CCDR-Algarve (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, que representa o Governo na região em tudo o que tem a ver com desenvolvimento e ordenamento do território) realizou um estudo sobre a prática do autocaravanismo no Algarve, que pode consultar no site do CPA: http://www.cpa-autocaravanas.com/materiais/Auto_Caravanismo.pdf Este estudo teve o mérito de revelar que o autocaravanismo em Portugal é muito mais importante em termos turísticos do que normalmente se supõe: mais de 1 milhão e 200 mil dormidas de autocaravanistas só no Algarve durante o ano de 2007. Mas a grande dimensão do autocaravanismo na região pode ser aproveitada também para iniciar um processo de perseguição aos autocaravanistas. Nos últimos meses tivemos a FCMP (Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal) e a AECAMP (Associação de empresas proprietárias de campings) a pedir que fosse proibido às autocaravanas estacionar fora dos campings. Agora, os autores deste estudo da CCDR-Algarve alinham pelo mesmo registo e escreveram:

a. página ix e p.35 do estudo, que o “autocaravanismo é uma modalidade de campismo”, pelo que “de acordo com a legislação portuguesa o autocaravanismo está confinado aos parques de Campismo”, sendo que os locais autorizados para o estacionamento das autocaravanas são apenas os campings e as áreas de serviço para autocaravanas. Isto é falso, mas arriscamo-nos a que se converta em lei;

b. página 38: “no que respeita às condicionantes identificadas nos instrumentos de gestão territorial (IGT) verifica-se que uma parte muito significativa das localizações (79%) encontra-se abrangida por uma ou mais condicionantes”. Também isto é falso, mas os autores usam-no para tentar justificar a proposta de proibição do estacionamento das autocaravanas em 80% dos locais habituais, de forma complementar à medida legislativa que obrigaria as autocaravanas a pernoitar nos campings ou nas áreas de serviço convertidas em locais de acantonamento de refugiados, tipo o que acontece na Croácia.

c. Quem tenha dúvidas sobre a intenção dos autores do relatório leia na página xiv as propostas dos pontos 7 e 10, que dizem nomeadamente: § “a polícia deve encaminhar os autocaravanistas para os locais apropriados para o efeito (áreas de serviço e parques de campismo)”;
§ Propõe-se a alteração do Código da Estrada por forma a incluir “normas que possibilitariam o estacionamento de autocaravanas apenas nos locais indicados para o efeito (parques de campismo, áreas de serviço e áreas de estacionamento devidamente autorizadas). "

Companheiro, em face da gravidade do que isto pode vir a representar para o autocaravanismo português (em Portugal as leis são para o país todo, não para uma região específica), ditou-nos a consciência que não podíamos ficar de braços cruzados. Por isso escrevemos o texto anexo que no início de Outubro enviaremos à CCDR do Algarve assinado por todos os autocaravanistas que assim o desejem. É esse o convite que aqui lhe viemos fazer: entre neste endereço (http://www.petitiononline.com/ccdra501/petition.html) e assine a petição contra o aprisionamento das autocaravanas nos campings, tornando-se assim autor colectivo do documento que será entregue à CCDR. Nós fizemos o nosso trabalho de casa, contamos que agora faça o seu. Divulgue este apelo junto dos seus amigos autocaravanistas, aos familiares e a todos aqueles que um dia esperam vir a ser autocaravanistas.

Um abraço cordial

Raul Lopes e Nuno Ribeiro


NOTA: os interessados em obter cópia do parecer que elaborámos sobre o estudo da CCDR-Alg, poderão obtê-la por email desde que nos manifestem esse interesse: tribuna.autocaravanista@gmail.com

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Parque para Autocaravanas junto à Ria de Alvor

A Administração da Região Hidrográfica do Algarve está a preparar uma intervenção na Ria de Alvor, que inclui a construção de um parque para autocaravanas. A notícia é adiantada pelo Barlavento Online que afirma que muito provavelmente esta infra-estrutura só estará disponível após o Verão. A notícia é muito generalista e ficamos sem saber ao certo de que tipo de área está a ARH do Algarve a idealizar construir.

Será esta a primeira aplicação do conceito de área de serviço criado pela Portaria 1320/2008? Com que consequências secundárias? A ver vamos...


sábado, 14 de fevereiro de 2009

Os Autocaravanistas vão deixar que seja o lobby campista a “defender” os seus interesses?

Nos últimos dias, por força da publicação do entendimento da Tribuna Autocaravanista sobre a Portaria 1320/2008 na revista El Camping Y su Mundo, assim como devido ao Colóquio da Federação de Campismo na FIL (a que o CPA emprestou legitimidade para reivindicar ser a entidade tutelar do AC), o assunto da Portaria (e não só) voltou à ribalta.
O CPA fez o frete à FCMP de se apresentar como organizador do Colóquio, mas mais uma vez revelou o respeito que tem pelos autocaravanistas e pelos seus próprios sócios ao nada divulgar sobre o que lá se passou. Que factura está o presidente do CPA a pagar ao presidente da Federação?
Foi graças ao blog Papa-Léguas que a comunidade autocaravanista tomou conhecimento do que lá se disse. Pela minha parte, obrigado ao Papa-Léguas.
Pelo menos aparentemente nada do que por lá se disse é novidade, mas o cenário empresta nova dimensão a 2 coisas que já se sabiam: que está em curso a criação de uma plataforma agregadora dos interessados em acantonar as autocaravanas nos parques de campismo (sobre isto já antes tinhamos visto foguetes vindos do além, e não só); e que os donos dos parques de campismo não descortinam qualquer razão para os autocaravanistas se queixarem da Portaria 1320. Fixemos a nossa atenção neste último aspecto.
No dito colóquio terá sido dito que não havia problema nenhum, pois se a Lei não proíbe… é permitido (no caso estacionar-pernoitar). Pois… o problema é quando há “leis municipais” feridas de ilegalidade mas não impugnadas judicialmente. Neste caso, é ilegal, mas para a polícia é suporte bastante para nos multar e/ou escorraçar. E se por acaso alguém ouvir o pedido entregue na Assembleia da Republica pelo MIDAP e seus guarda-costas, então deixará mesmo de ser ilegal: pois o maior problema actual das Câmaras é não terem um sinal de trânsito que permita descriminar as autocaravanas (o tal sinal que Nandin de Carvalho se não cansa de reclamar).
Os ecos do Colóquio serviram também para que o malabarista DeCarvalho se apressasse a vociferar e a exibir as suas habilidades para iludir pacóvio: “vêem, eu não dizia que a Portaria era só para regular o campismo?”. Claro que se esqueceu de dizer que o diploma legal que esgrime não distingue entre autocaravanismo e campismo, logo os autocaravanistas são simplesmente tratados como campistas. E, assim sendo, ou acampam nos campings normais, ou nos campings especiais para autocaravanas definidos na Portaria, … ou são campistas selvagens como a AECAMP e a FCMP pretendem. O futuro se encarregará de mostrar quem é que chumbaria no primeiro ano de qualquer curso de Direito.
No meio de tamanhas patetices e completa ausência de lucidez, cumpre-me desta vez saudar o Paulo Rosa, que já antes aqui critiquei. Ele teve a lucidez (e desta vez a coragem) de vir a público dizer que o rei vai nu: os autocaravanistas não podem confiar a defesa dos seus interesses às organizações ligadas aos interesses campistas. É uma questão de elementar bom senso!
Ao que ele disse só acrescentaria isto: não podemos confiar a defesa dos nossos interesses aos donos dos parques de campismo, nem sequer às empresas mascaradas de clubes de automóveis.

Pela sua pertinência, transcreve-se de seguida, na integra, o texto de Paulo Rosa.

A separação dos representantes do “Autocaravanismo” e do “Campismo” é essencial.

Não adianta insistir que os representantes sejam comuns e que a defesa de interesses se assuma independente, pois as motivações e orientações são muito diferentes. Não adianta querer ou acreditar que uma federação de parques e clubes campistas vá defender uma actividade turística que pode utilizar, esporadicamente, ou não, os serviços dos campings. Esta perspectiva é tão real, como a realidade de os nossos campings, em geral, não darem um só passo em frente na adaptação dos seus serviços aos interesses e necessidades dos autocaravanistas. Falo concretamente de zonas de serviços e acolhimento anexos aos campings, de tarifas atractivas para autocaravanas, etc. Construir hoje para colher amanhã é algo que ainda não chegou à visão da generalidade dos empresários dos campings. Assim, criar modelos de negócio que captem os autocaravanistas é algo que não é implementado. Em alternativa insistem que, através de interpretações abusivas da Lei e redutoras da nossa actividade, sejamos obrigatoriamente encaminhados para os campings ao final do dia. Por outro lado, não chegaremos a lado nenhum enquanto não for aceite e reconhecida esta vertente do autocaravanismo, como forma de turismo itinerante, a qual é perfeitamente sustentável sem recurso aos campings, mas sim a zonas de serviços e parqueamento de ACs. Observe-se o desenvolvimento que este tipo de turismo tem em França, Itália ou Alemanha, onde este modelo funciona e é (bem) reconhecido e apoiado pelos governos, comparativamente com aqueles países onde o autocaravanismo é reconhecido apenas como uma modalidade campista (Croácia, Bélgica, Suíça, …etc). Para nós, autocaravanistas, o desejo é claro de não sermos representados por associações campistas. É essencial que a convergência no meio autocaravanista se assuma e as “plataformas sectoriais campistas” defendam os seus interesses específicos, os quais são bem diferentes dos nossos.Faço votos de que os nossos representantes olhem em frente, se inspirem no crescimento do autocaravanismo, para adiantar a marcha e as acções, deixando as federações e clubes campistas correrem ao seu ritmo, na defesa da sua actividade básica – o campismo.
_________________Paulo http://www.campingcarportugal.com/

Raul Lopes

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Quem seguir na marcha do autocaravanismo?

Na vida os erros pagam-se caro. Quando nos aliamos aos perdedores, acabamos derrotados com eles. No autocaravanismo as coisas não são diferentes. Daí que precisemos escolher bem as nossas companhias, daí que seja importante saber reconhecer os vencidos e os vencedores. Hoje, Sexta-Feira dia 13, aqui ficam 13 contributos para identificar uns e outros no palco autocaravanista português.

  1. Um vencedor não teme o erro, pois sabe admiti-lo com humildade e está sempre pronto a corrigi-lo e a aprender com os seus erros. Um perdedor recusa-se a reconhecer que errou, e quando é obrigado a fazê-lo desculpa-se atribuindo a culpa a outros.
  2. Um vencedor enfrenta as críticas com lealdade e frontalidade. Um perdedor quando criticado vai a correr retocar o perfil, apressa-se a modificar ou mesmo a apagar o que antes escreveu de si mesmo, auto-elogia-se freneticamente para fazer esquecer as críticas que lhe são dirigidas.
  3. Um vencedor assume com humildade os seus actos, as suas vitórias e as suas derrotas. Um derrotado clama vitória antes de travar o combate e passa a vida a reescrever a história e a dizer que nunca disse o que disse, que nunca fez o que fez, que nunca esteve onde esteve.
  4. Um vencedor aprende com as críticas que lhe fazem e enfrenta as adversidades com redobrada energia. Um perdedor encara a crítica como um ataque pessoal sem quartel e refugia-se no discurso da vítima enraivecida a espumar de ódio.
  5. Um vencedor tem uma estratégia que prossegue com determinação e critério, enfrentando as dificuldades uma a uma. Um perdedor comporta-se como uma barata tonta vinda do além, mistura alhos com bugalhos, dispara em todas as direcções e não consegue acertar em nenhum alvo.
  6. Um vencedor é um guerreiro frontal e leal. Um perdedor é um cobarde que morde pela calada, que atira a pedra e esconde a mão.
  7. Um vencedor tem ideias próprias que não teme submeter ao escrutínio da crítica. Um perdedor refugia-se no discurso politicamente correcto para esconder a ausência de ideias ou fantasia e mistifica pois só sabe que tem que dizer o contrário do que os seus rivais dizem.
  8. Um vencedor é autoconfiante, consciente das suas capacidades, mas também das suas limitações, não dispensando a autocrítica. Um perdedor é um vaidoso convencido, alguém que passa a vida a tocar o seu umbigo enquanto olha para o espelho, alguém cuja motivação para o combate se esgota na inveja e na rivalidade mesquinha.
  9. Um vencedor compromete a sua palavra e tudo faz para a honrar. Um perdedor está sempre prenhe de ideias e de promessas mas é incapaz de as honrar ou mesmo de se empenhar na sua concretização.
  10. Um vencedor ouve o que os outros dizem, pondera os seus argumentos e pronuncia-se sem subterfúgios. Um perdedor não se ouve a si próprio, ignora os argumentos que lhe apresentam, mas tem sempre resposta para tudo, mesmo antes dos outros colocarem as questões.
  11. Um vencedor reconhece aqueles que sabem mais do que ele e procura aprender com eles. Um perdedor declara seu inimigo quem revelar sabedoria e concentra-se nos seus defeitos para tentar denegrir a sua imagem pública.
  12. Um vencedor arranja sempre maneira de ser parte da solução. Um perdedor não consegue evitar ser parte do problema.
  13. Um vencedor é um líder natural que não precisa de se impor para ser reconhecido entre os seus pares. Um perdedor é simplesmente um derrotado permanentemente em bicos de pés, alguém capaz de conduzir um exército para um abismo sem saída, alguém incapaz de perceber que o deixaram a falar sozinho (como é sina dos tolos).

De entre os actores que evoluem no palco do autocaravanismo em Portugal, pode não ser fácil identificar os vencedores, mas os perdedores só não os identifica aquele que é cego por não querer ver.

A si que me lê, cabe a responsabilidade de decidir se quer ser parte da solução ou do problema, se quer seguir ou barrar o caminho aos perdedores que inevitavelmente conduzirão o autocaravanismo para os terrenos pantanosos onde se vai afundando.

Raul Lopes

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A Tribuna Autocaravanista na Comunicação Social

A Tribuna Autocaravanista é não só uma referência entre os autocaravanistas que fizeram deste Blog o espaço mais lido do ciberespaço autocaravanista português, como uma referência do autocaravanismo seguida pela comunicação social.
Aqui pensa-se autocaravanismo e os ecos do que nesta Tribuna se diz fazem-se ouvir bem longe.

Obrigado à revista El Camping Y Su Mundo pelo convite e por projectar as nossas ideias além fronteiras.


Esta é a cópia da página que a revista El Camping y Su Mundo dedicou ao nosso texto. Para o descarregar para o seu computador basta clicar aqui, ou clique directamente sobre a imagem para poder ler o texto original.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A Posição da AECAMP sobre a Portaria 1320/2008

A posição da AECAMP, a associação de proprietários de parques de campismo, sobre a Portaria 1320/2008 é revelada pela Revista El Camping Y Su Mundo, edição de Fevereiro, na página 16 e que aqui reproduzimos:

Para descarregar a página da revista, clique aqui ou clique directamente sobre a imagem.

A Associação dos proprietários de parques de campismo privados considera a recente Portaria uma oportunidade perdida, porque...“não foi dada a devida importância às graves questões relacionadas com o Campismo Fora de Parques”.

Por campismo fora dos Parques deve ler-se, na óptica da AECAMP, “o grave problema” da pernoita das autocaravanas fora dos campings.
Para quem duvide que o objectivo da AECAMP é acantonar as autocaravanas nos Parques de campismo, a passagem seguinte é clara. A Portaria é má porque (ainda) não é suficiente...


Podem os autocaravanistas ter como parceiros na construção do movimento autocaravanista quem assim pensa? Pelos vistos lá para os lodos dos MIDAPs, ONGAs e companhia pensa-se que sim. Eles lá saberão porquê. E nós também...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Recordando outros Carnavais: ao encontro dos Caretos de Podence

Daqui a quinze dias repete-se o ritual dos festejos de Carnaval. Disfarçando a fraca tradição da data entre nós, um pouco por todo o lado o país vai ser invadido pelos desfiles com ritmo e sotaque brasileiro. Mas a cultura tradicional portuguesa também nos oferece outros desfiles, outros registos, outras cores e sabores. Pela mão da companheira Paula Vidigal, a quem a TAC agradece a amabilidade da colaboração, aqui fica uma proposta diferente de viver o Carnaval. Na sua crónica Paula Vidigal leva-nos ao encontro dos Caretos de Podence, pretexto para usufruir do que melhor Trás-os-Montes tem para nos oferecer. Que bela sugestão...




O tempo passa a voar e, se ontem foi a passagem de ano, daqui a nada está aí o Carnaval. (Lembro-me ainda, quando era adolescente, que uns dias a seguir ao Ano Novo, a garotada começava a rebentar bombinhas de Carnaval, quase cosendo as duas datas festivas…).


Provavelmente para fazer justiça a esses tempos, ocorre-me agora a viagemdecasaascostas de 2008, em épocas de Entrudo. O pretexto era mesmo viajar; a temática a tradição das máscaras, das carantonhas, dos mascarados, dos caretos.


Desta vez o Carnaval comemorou-se cedo (dia 3 de Fevereiro era domingo Gordo), pelo que o Inverno ainda se fazia sentir e bem! O frio acompanhou-nos sempre e, infelizmente, a chuva. No sábado, preguiçámos na viagem e, se o destino era Podence, talvez com pernoita em Foz Côa, optámos por parar mais cedo, por volta das 17.30, em Freixo de Numão, naquele que é um local já consagrado a AC. Lá estava uma francesa e nós. Água e local de despejo. Dedicámo-nos, com o frio, à vidinha caseira: copas, “olho do K”, leituras…


No dia seguinte, a chuva instalou-se de vez , mas mesmo com ela as visitas ao Vale “rupestre” do Foz Côa estavam esgotadas até dia 5. Felizmente que as lojas dos chineses não conhecem feriados sejam eles gordos ou magros, já que o esquecimento dos chapéus-de-chuva nos levou a Marcos de Canaveses à procura dos ditos cujos. Dali a Podence a excitação era grande porque a vontade de ver a chocalhada era muita.

Os Caretos representam imagens diabólicas e misteriosas que todos os anos desde épocas que se perdem no tempo saem à rua nas festividades carnavalescas de Podence – Macedo de Cavaleiros. Interrompendo os longos silêncios de cada Inverno, como que saindo secretos e imprevisíveis dos recantos de Podence, surgem silvando os Caretos e seus frenéticos chocalhos bem cruzados nas franjas coloridas de grossas mantas."



O programa das festas (previamente consultado na net), dizia-nos que o desfile seria por volta das 15h, creio. Até lá, havia tempo, qual Óbelixes, para um belo almoço de leitão assado no, certamente, melhor (e creio que único) restaurante da terra. Mas se o gaulês comemora no fim da festa, a nossa comemoração foi antes e não nos deu muita sorte. A partir dali a chuva foi basicamente o som que se fez ouvir. O desfile dos Caretos que, segundo a tradição, se despede do Inverno e saúda a Primavera, não pôde mostrar-se nem renovar as estações.


Graças à chuva, os trajes coloridos, feitos de colchas franjadas de lã ou linho, não se atreveram a soltar-se ruas fora, ensopando-se em mantas pesadas e impossibilitando a correria e a energia máscula dos homens que as vestem. Se os chocalhos à cintura têm como finalidade assinalar os dias do calor que se aproximam, era óbvio que o tempo lhes cortava as voltas. Mesmo assim, soava aqui e ali um chocalho mais afoito que nos fez correr até à tenda gigante montada para a exposição da Festa. Lá dentro, aquecedores gigantes e muita animação: gaiteiros da nuestra hermana España e os tão esperados acabaram por dar caras, ou melhor, dar às ancas em cima do mulherio que ria de prazer e dor. Bem esperámos que o sol os aplaudisse e aparecessem, mas acabei a levar com os chocalhos mesmo ali, debaixo de chuva e frio.

A esperança extinguiu-se e a noite foi passada em Bragança, debaixo de frio, num local pacato e simpático: frente à antiga gare de comboios. Apesar das expectativas furadas, na Casinha reinou a boa disposição, à excepção de algumas reticências do mais jovem que não olhou com bons olhos a energia e as carantonhas dos caretos. Afinal há sempre locais a conhecer cá dentro, Bragança era um dos que nos faltava. A manhã de segunda foi passada ao longo do seu centro histórico.




Para rimar com a temática da viagem, aprofundámos os nossos conhecimentos sobre as máscaras e trajes de Carnaval tradicionais, no Museu Ibérico da Máscara, simpático e acolhedor.



Incrível como a tradição se repete por essas aldeias espanholas.Quem sabe um bom roteiro para outros carnavais…




À tarde, visita rápida a Murça para ver de perto a sua porca.


Final de dia em Vila Real para um banho de sétima arte: o último com Johnny Deep – Swenney Todd, um musical fabuloso mas tenebroso.

Pernoita mesmo ali perto do shopping Dolce Vita, ao lado de uma zona residencial, com algum barulho de música de noite, mas sofrível.

Terça-feira de Entrudo e desta vez a chuva não ia estragar a festa. Era a nossa secreta (e bem apregoada) esperança, já que o plano era seguir de perto outras andanças carnavalescas de ar livre. Às 11.30, com medo de perdermos o lugar, já estávamos às portas de Lazarim , uma aldeia ao longo de estrada magra com pouco espaço para AC. Coubémos.
Na padaria (a única da aldeia) fazia-se fila para o pão e bola de carne. Foi o nosso almoço, apesar de a tenda gigante no centro da aldeia, nos acenar com um belo cardápio regional. Das 14.00 às 19.00 vimos desfilar um grupo singular de máscaras e de trajes, numa manifestação de alegria invulgar e insólita. Contrariamente a Podence, aqui a mulher também participa e, pelo que vimos, concorrendo em força.



(abertura do desfile pelos padrinhos)





De trapos velhos, de palha e outros constituintes da mãe-Natureza, a criatividade e o engenho mostra que não é preciso seda e riquezas para criar o belo e colorido. Para além do desfile toda a manifestação é original: a abertura do desfile pela madrinha e padrinho lida de um balcão, a leitura dos testamentos, com a sua linguagem pícara e picante visando alvos conhecidos da aldeia (e a corarem ali ao nosso lado), o concurso das máscaras e a queima dos bonecos de palha. Ao que parece os testamentos são redigidos ao longo do ano, logo a seguir ao dia de Entrudo. Os deste ano certamente já estarão destinados e redigidos, provavelmente não às escondidas, em velhos barracões e palheiros, mas quem sabe, na troca de e-mails e sms já que muitos dos jovens participantes estudam na cidade e vão à “terra” pela altura das festas.



(leitura dos testamentos)









(queima do boneco)
O epílogo da festa é de barriga cheia, já que se oferece a todos (aldeãos e forasteiros) um caldo de farinha e feijoada ali mesmo cozinhados, em panelas de ferro, ali, no centro da praça e ao vivo. O calor das brasas, do vinho e da alegria acompanharam-nos até Viseu, onde cortámos o banho pagão com um Ásterix na tela da sétima arte, in Fórum Viseu. Pernoita no antigo Rossio, quase ao lado do Viriato e de duas carrinhas itinerantes.
(preparação da feijoada)
Já de regresso, a nostalgia do passado acenava e não resistimos ao apelo da voz coimbrã, mas à beira-rio já não há lugar para AC. Aliás, a senhora do parque de estacionamento esclareceu-nos que toda aquela zona não é aconselhável a pernoitas, dado que o amigo do alheio por ali já actuou algumas vezes com estrangeiros e portugueses. A ideia era só almoçar, mas registámos, com pena. Afinal em Coimbra tem de se pernoitar no Camping? Não há outros locais exteriores possíveis?
Era o fim das curtas férias, não havia tempo para indagar… se alguém souber de algo interessante naquela que é uma das nossas cidades eleitas, que diga.


Paula Vidigal
http://viajantedecasaascostas.blogspot.com/

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

El Camping Y Su Mundo

A versão portuguesa da revista El Camping Y Su Mundo, a única publicação periódica comercial em português sobre campismo e autocaravanismo, publica na sua edição 46 várias notícias em que se destaca a atenção concedida à Portaria 1320/2008, que aproveitamos para reproduzir umas das 3 páginas dedicadas pela revista a este assunto. Certamente um assunto a debater no Colóquio sobre "O Autocaravanismo e Leis Actuais" a realizar na FIL.


Em complemento do comentário de 5ª feira passada na TAC e pela informação disponibilizada pela organização da Nauticampo, constata-se que não é apenas um colóquio sobre campismo que algumas fontes pouco credíveis se apressaram a lançar como facto consumado de modo a justificarem a sua ausência. De facto o tema é sobre o Autocaravanismo e não só a prática do campismo em autocaravanas.

Para descarregar para o seu computador a página da revista, clicar aqui ou clique directamente sobre a imagem.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Convite para a NAUTICAMPO 2009

Da organização da Nauticampo, recebemos a seguinte informação sobre a disponibilidade de Convites para esta Exposição. Para o fazer basta aceder ao endereço que indicamos no final desta mensagem e registar-se. Basta colocar o nome, a entidade(que pode ser a referência à TAC) e o endereço electrónico para o qual será remetido o convite.



Exmos. Senhores,
Com o objectivo de potenciar todos os canais de promoção NAUTICAMPO 2009 e de chegar à totalidade dos interessados do sector, foi especialmente criado para o efeito, um Convite Electrónico que enviamos em anexo, solicitando a Vossa colaboração através da sua divulgação e reencaminhamento para o vosso universo de contactos.
Agradecendo antecipadamente toda a colaboração, continuamos à vossa inteira disposição








Endereço para registo de visitantes: http://newsletter.fil.pt/nauticampo/convitestopfil09/convite.html

Relembramos que o horário da exposição aos fins de semana é das 10h00 às 20h00 e aos dias da semana das 15H00às 23h00.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Dormir à chuva ... é muito bom!

Entendamo-nos: eu detesto chuva. Se viajamos de carro a chuva só serve para nos retirar a visibilidade e complicar a segurança da condução. Se viajamos de mota ou de bicicleta a chuva só serve para nos castigar o corpo e dificultar a progressão. Se viajamos a pé a chuva só serve para... nos molhar.
Mas há excepções. Há momentos em que a chuva nos aconchega a alma. Da mesma forma que a canícula do sol serve para nos proporcionar o prazer da sombra, também a chuva pode ser usufruída com prazer... se tivermos a liberdade de escolher entre andar ou não à chuva.

Certo dia fui surpreendido com uma bátega de água enquanto realizava uma caminhada com os meus filhos, a Catarina então ainda uma criança e o Ricardo no princípio da adolescência. Hesitámos sobre o que fazer: procurar abrigo ou prosseguir. Decidimos enfrentar a chuva diluviana. Acertámos o passo e lá fomos pisoteando as poças do chão alagado, ao mesmo tempo que improvisávamos uma cantilena tipo marcha militar com o refrão cantado em coro:

--Um, dois, três... andar à chuva é muito bom!

-- Trá, lá, lá... trá, lá, lá...andar à chuva é muito bom!

-- ... andar à chuva é muito bom!

Acabámos completamente encharcados, mas ainda hoje, uns pares de anos volvidos, quando acontece lamentar-me da chuva que cai, sou de pronto corrigido pela Catarina: Andar à chuva é muito bom, lembras-te?!

Nestas alturas recordo com prazer a sensação da chuva tocada a vento que me fustigava a face, recordo a cumplicidade partilhada com os filhos de cometer a loucura de fazer o politicamente incorrecto, enfim... recordo o momento como uma forma de usufruto da liberdade, como uma forma de solidificar uma relação de amor entre humanos, mas também como um hino de celebração da harmonia com a natureza.

Porque invoco agora e aqui estas recordações? Porque como autocaravanista acabo de viver outra experiência intensa... à chuva.

Preparámo-nos (?) para passar os últimos dias do ano a bordo da autocaravana. Como de costume a programação da viagem era pouco mais do que um estado de espírito: iríamos rumo a Andaluzia, o resto logo se veria. Aberto o mapa de estradas pensei em sair por Elvas e apontar a Córdoba, seguindo depois para sul. Todavia a decisão de última hora de visitar uns amigos em Évora conduziu à alteração de “planos”: sairíamos por Vila Verde de Ficalho e rumaríamos a Sevilha. Assim se fez, ou não fossem a improvisação e a flexibilidade atributos intrínsecos dos autocaravanistas.

Mesa de Natal ainda posta, lareira acesa e o calor de outros convivas presentes, fez o tempo voar. Já ia alta a noite quando deixámos a casa dos amigos, após termos degustado alguns bons vinhos alentejanos acompanhados do inevitável queijo regional (de vários odores e sabores) e de um bom paio tradicional.

Saímos à rua, deitámos um último olhar à arquitectura da Praça do Giraldo e calcorreámos a Rua da República em direcção ao Rossio, onde a autocaravana e o Jimmy nos esperavam para ai pernoitar. A arquitectura palaciana do percurso convida a um olhar mais atento do que aquele que a madrugada aconselha, mas não pude evitar deter-me por algum tempo fronte ao prédio de linhas simples de cujo varandim se proclamou a 5 de Outubro a adesão da cidade de Évora à Republica que nesse mesmo dia emergia no espírito dos portugueses como um silvo de esperança num país mais fraterno, solidário e justo.

A chuva que no curto percurso do centro histórico ao Rossio se nos tinha anunciado não tardou em cair. Plim..., plim... plim... Nada que nos impedisse de dormir tranquilamente, pelo contrário.

Manhã avançada lá partimos rumo a Beja, mas de “GPS” apontado a Serpa, onde o Molhó-bico nos esperava para almoçar. Localizado na zona SE da vila, na Rua Quente (junto à muralha) este restaurante serve, num ambiente a todos os títulos acolhedor, bons pratos da gastronomia regional alentejana, sem esquecer o requinte das entradas tradicionais. Há quanto tempo não molha o pão em azeite virgem de fino paladar?

De resto Serpa bem merece uma desapressada visita. Na alvura e humildade que exibe não consegue esconder a grandiosidade do seu núcleo histórico, de arquitectura árabe bem vincada, trazendo-nos à memória outras cidades do reino de Granada, como Córdoba, por exemplo.

Serpa

O percurso até à fronteira proporciona-nos um momento de rara serenidade, em qualquer época do ano, pese embora a radical mudança policromática que o Alentejo ostenta. A planície apenas é entrecortada por pequenos cerros. Dos solos delgados brota uma vegetação escassa e de pequeno porte, onde pontificam as azinheiras e as oliveiras, centenárias umas, de cuidada plantação recente outras. De permeio, deambulando em liberdade, as vacas, ovelhas e porcos pretos pontuam o amplo espaço campestre. Aqui e ali algumas cegonhas residentes levam-nos a duvidar de estarmos em Dezembro.

Atravessada a fronteira a paisagem mantém-se, mas à medida que penetramos na serra o relevo torna-se mais acidentado e o coberto de azinheiras mais denso. O que mais surpreende agora é a intensidade do encabeçamento animal em regime extensivo. Os porcos ibéricos que antes víamos como elemento pitoresco da paisagem transformam-se agora em varas de considerável dimensão. Às vacas de carne juntam-se agora os touros. As ovelhas e as cabras passam a ser presença regular. Com esta actividade pecuária convive a economicamente pujante cinegética organizada em múltiplas coutadas de caça.

Córdoba: Rua dos Judeus

Desta mistura de actividades se alimenta a economia rural andaluza, cuja prosperidade pode aquilatar-se nos bares e “ventas” de qualquer dos seus pueblos, onde a par dos presuntos, enchidos, queijos, mel, doces, etc. encontramos recorrentemente uma extraordinária animação social, em flagrante contraste com o que geralmente observamos nos espaços rurais portugueses.

Caída a noite, decidimos evitar a problemática insegurança da cidade de Sevilha pernoitando num local a escassas dezenas de kms, precisamente no parque de estacionamento de uma dessas “ventas”: a Venta los Angeles, em Valdeflores.

Num cenário marcado pelas cabeças de veado e de javali exibidos na parede como troféus de caça, partilhámos com os locais o animado ambiente da “venta” enquanto degustámos um muy bueno viño Jerez.

A incessante chuva que nos havia perseguido durante todo o dia continuava a cair copiosamente. Paredes meias com a cerca que retinha meia dúzia de lamas, uma ovelha, um burro e alguns cavalos andaluzes, instalámo-nos na capucine da autocaravana prontos para dormir.

No silêncio da noite a que só a serra sabe dar a devida profundidade, ficámos a ouvir a chuva cair ali mesmo a um palmo da nossa cabeça. Plim, plim, plim... plim... plim... plim.

Ora doce e suave como a melodia de uma flauta, ora murmurando como um violino, ora soando forte e brusca qual correria de cavalos colina abaixo rumo ao riacho numa tarde de canícula, a chuva bateu sobre nós toda a noite, conferindo às penas que me aqueciam o corpo um prazer acrescido. Que impar sinfonia a da natureza!

Muitos foram os poetas que celebraram a chuva batendo nas vidraças e o vento fustigando os ramos das árvores. Certamente que os músicos lhe não foram indiferentes. Hoje compreendi melhor Vivaldi e Beethoven. Por certo eles viveram uma experiência de semelhante carga sensorial.

Ao som desta melodia que brota do breu da invernal noite campestre, a memória voou e transportou-me pelo passado para me desmentir: bem vistas as coisas eu gosto de chuva. Confrontado com a recordação de outros inolvidáveis momentos de prazer à chuva, onde sobressaem aquela noite em que um grupo de garranos do Gerês ameaçava deitar abaixo a tenda completamente alagada, aquela outra noite no camping da Serra da Estrela que obrigou os campistas de tenda a refugiarem-se na casa de banho (com os sacos-cama encharcados) enquanto eu usufruía da sensação de enfrentar a tempestade no conforto da autocaravana, ou ainda aquela madrugada de uma noite diluviana passada em Sesimbra com as gaivotas a acordarem-me enquanto se passeavam sobre a cobertura da autocaravana.

Naquele momento, enfim, compreendi que é um privilégio ser autocaravanista, poder gozar a liberdade que tal maneira de estar na vida nos concede. Afinal, dormir à chuva... na autocaravana, é muito bom!



Raul Lopes

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O que quer afinal o CPA?

O CPA vai “organizar” um colóquio sobre Autocaravanismo na FIL, no decorrer da edição de 2009 da Nauticampo.

Dito desta forma, poder-se-ia dizer que estávamos perante uma eventual iniciativa interessante e num quadro adequado à sua realização, já que, esta feira tem uma forte componente expositora na área do autocaravanismo.

Contudo, o colóquio será organizado pelo Clube, mas… a “convite” da FCMP, indo o CPA, mais uma vez (e desta feita), a reboque da Federação de Campismo, como já tinha ido na visita e almoço à AR, nessa altura, a reboque/convite do MIDAP.

Curiosamente, este “movimento de movimentações” ditas “independentes”, tão proclamado nas últimas etapas do autocaravanismo virtual como o “salvador da nação autocaravanista”, não foi contemplado na participação coloquial.
Das duas uma, ou a FCMP pura e simplesmente não os quis lá, reduzindo-os à sua real (in)significância, ou o CPA deixou cair os “amigos”, não chegando sequer a sugerir a sua participação.

Para além deste aspecto de cariz institucional tão importante, levantam-se outras questões de orientação que não podem ser descuradas.

Não se compreende, desde logo, em que águas navega, afinal, o CPA – se nas águas da concepção estritamente campista, sob o cioso “controlo” da FCMP, ou nas águas lodosas do pseudo multi-associativismo-unitário-e-de-boa-fé, resultante da “agremiação” de clubes, círculos, movimentos, blogues e portais, sob a batuta de um(a) ONGA virtual.

A deriva do Clube é cada vez mais evidente, desdobrando-se a acompanhar, de forma sempre arrastada, todos os que aspiram a falar sobre autocaravanismo, sem perceber qual a sua legitimidade, coerência e identidade de princípios.

O CPA desbaratou, há muito, qualquer sentido de dignidade e de orientação. O Clube vira-se, qual cata-vento, a qualquer brisa, por mais insignificante que ela possa ser. O sentido ético e de honradez em defesa do Autocaravanismo, de acordo com aquilo que eram os seus princípios e a identidade com o sentimento maioritário dos autocaravanistas, perderam-se em absoluto.

Não se compreende que no colóquio “organizado” pelo CPA, seja “entregue” ao Clube apenas um dos temas, e logo o de menor impacto, reduzindo-o à mera condição de mais um clube federado e não, como seria de esperar, elevando-o à condição de Instituição referência do Autocaravanismo em Portugal.

Com uma oportunidade única de introduzir e liderar a discussão de temáticas mais importantes - nomeadamente nas que pretendeu assumir-se como “oposição” às teses da FCMP, se fizermos fé nas afirmações de um passado recente - preferiu aceitar ser relegado para um papel de menor relevo, apresentando-se, uma vez mais, de cócoras, perante aqueles que mais têm apostado na fórmula redutora e “aprisionada” de Autocaravanismo.

Tristes cenas desta Direcção e triste sina a deste Clube. Mas é o que dá quando o sentido de oportunidade e liderança cede lugar ao oportunismo próprio dos papalvos ávidos de exibicionismo sem qualquer conteúdo sério.

Esta participação tem ainda o condão de ampliar a confusão entre campismo e autocaravanismo.
Se já assistimos a um CPA soçobrando ao “encanto das sereias troianas”, agora assistimos ao mesmo filme perante as “sereias gregas”.

O CPA, qual meretriz do autocaravanismo, desdobra-se em participações espúrias, deixando os seus associados e autocaravanistas em geral na maior das confusões.
O que quer afinal o CPA?

Laucorreia

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Conflictos en el ámbito legal de la pernocta

Arsénio Gutiérrez é um nome maior do autocaravanismo em Espanha. Com longa experiência associativa e institucional, o companheiro Gutiérrez conquistou o respeito dos autocaravanistas (e não só dos espanhóis) pelas suas críticas acertivas, pela competência intelectual que emprega nas suas análises, enfim... porque sabe como poucos pensar autocaravanismo.
A Tribuna Autocaravanista orgulha-se de aqui poder partilhar com os nossos leitores esta excelente análise sobre a problemática legal da pernoita em autocarava em Espanha. Como é fácil de entender também em Portugal nos debatemos com os mesmos problemas.

Aproveitamos para gradecer publicamente ao Arsénio a sua prestável colaboração e a cedência do resumo em powerpoint que pode ser visto no final do texto. Gracias compañero!



Poco a poco vamos conociendo por donde nos aprieta el zapato. Durante mucho tiempo los autocaravanistas hemos tratado de convencernos de que el pernoctar en el interior de una autocaravana estacionada es una actividad legal.

Y eso es cierto a la luz de las leyes de Seguridad Vial, sin embargo, cuando se nos denuncia por acampar, no se nos aplica las leyes de tráfico sino las de acampada.

No se trata de un conflicto en la interpretación de una ley sino de la aplicación de un ámbito legal diferente a una misma actividad: el hecho de utilizar el interior de una autocaravana estacionada de acuerdo con las leyes de seguridad vial, sin que la actividad interior transcienda al exterior.

La causa de las denuncias por la presunta infracción de acampar no obedecen a una interpretación errónea de una ley que no existe, puesto que ningún texto legal recoge la definición que establece la diferencia entre el estacionamiento de un vehículo y su utilización como medio de acampada de sus ocupantes.

Cada situación del vehículo está definida en su propio ámbito legal, la de estacionamiento en las leyes de seguridad Vial, así lo certifica el Organismo Competente en su Instrucción 08/V-74: "De acuerdo con los artículos 90 al 94 del Reglamento General de Circulación y siendo irrelevante la actividad interior para la maniobra de estacionamiento si ésta no transciende al exterior".

Por otra parte, las leyes de acampada, cada una en su ámbito de aplicación, establecen que la acampada es la "instalación de una vivienda-móvil" o el "pernoctar en el interior de una vivienda móvil", equiparando la instalación al estacionamiento y una vivienda-móvil a una autocaravana.
Por el momento, no existe y es altamente improbable que exista en el futuro un texto legal o normativa que establezca claramente que una autocaravana que está legalmente estacionada no esté acampada o, que la normativa legal que se le puede aplicar exclusivamente a una autocaravana estacionada es la de Seguridad Vial.

Cada texto legal, por su parte, establece su propio ámbito de aplicación, de esta forma la Ley de Seguridad Vial, define en su artículo 2 que todo vehículo que circula, para o estaciona en la vía pública está sometido a su normativa.

Por otra parte, cada Ley que regula la acampada, establece que su aplicación en su propio ámbito territorial, somete a su criterio a todas las personas que utilizan un medio de acampada fuera de los lugares autorizados. Definiendo, entre los medios de acampada a las autocaravanas como un alojamiento móvil ya que dispone, según el Reglamento General de Vehículos de elementos apropiados para servir de vivienda provisional.

La cuestión que genera un conflicto que afecta gravemente a la movilidad de las autocaravanas es el criterio sobre qué ámbito legal se debe aplicar a una autocaravana correctamente estacionada en un lugar autorizado sin que la actividad interior transcienda al exterior.
La interpretación del mismo hecho que hacen los agentes de la autoridad denunciando la presencia nocturna de una autocaravana habitada en un estacionamiento en el dominio público es la de acampada porque lo hacen a la luz de las leyes de acampada. Sin embargo este mismo vehículo, en la misma situación de ocupación, en horario diurno, está estacionado para los mismos agentes.

Para un agente de tráfico esta autocaravana sería un vehículo estacionado a las tres de la tarde, a las tres de mañana, habitado o vacío, puesto que lo ven a luz de las leyes de Seguridad Vial.
Un mismo hecho no puede ser tratado por dos ámbitos legales a la vez y teniendo en cuenta que la autocaravana es al mismo tiempo e indistintamente un vehículo y una vivienda es necesario que se establezca definitivamente el ámbito legal a aplicar.

Una gran parte de los autocaravanistas hemos adquirido nuestro vehículo porque proporciona los dos medios más importantes para viajar: transporte y alojamiento y la condición de vehículo nos facilita la posibilidad de pernoctar en él mientras estamos legalmente estacionados.
Lo hemos hecho, además, porque los precedentes legales indican que el pernoctar en el interior de un vehículo es una acción legítima y no constituye ninguna infracción.

Diariamente decenas de miles de pasajeros pernoctan en el interior de un vehículo dentro del territorio español sin ser molestados por ello. Turismos, autocares, camiones o furgonetas son los vehículos utilizados para pernoctar en cualquier espacio del dominio público sin que los agentes de la autoridad los denuncien por acampar. Cualquier intención es lícita, turismo, trabajo o vivienda.

La autocaravana no es el único vehículo dotado de elementos para ser habitado, los camiones disponen de serie de camas o literas y de cabinas con altura y espacio para servir de alojamiento. Algunos autocares están dotados con asientos transformables en literas y váter.

El concepto de viajar con un vehículo, que una vez estacionado, sirve de alojamiento a sus pasajeros constituye una forma legal de alojamiento porque se basa en las leyes de Seguridad Vial, por la condición de vehículo y su estacionamiento en el dominio público.

Esta fórmula es aceptada por la sociedad como legal, cuando se trata de un vehículo de trabajo sin que desde la hostelería se considere como competencia desleal. Es más, desde un punto de vista de mercado, la competitividad en el transporte de mercancías internacional no podría concebirse en la actualidad sin la posibilidad de que los conductores de un camión pernocten en el mismo y sin la existencia de multitud de áreas donde los conductores de los camiones puedan descansar y pernoctar en ellos.

Luego el ámbito legal que se aplica a cualquier persona que pernocta a bordo de un vehículo que no sea una autocaravana es, en primer lugar, el de las Leyes de Seguridad Vial. De la misma forma, a una autocaravana, como vehículo, se le debería aplicar, en primer lugar, las leyes de Seguridad cuando está estacionada en el dominio público.

La dualidad legislativa sobre el uso de la autocaravana es un problema que ha sido tratado ya en diferentes países de la UE, de esta forma, en 2004 se publica en Francia un documento titulado "L'Accueil des Camping-Car dans les Comunes Touristiques". (1)

"No hay reglamentación específica para las autocaravanas. La autocaravana es a la vez un vehículo y un modo de alojamiento asimilado a la caravana, según sea su estacionamiento sobre el dominio público o el dominio privado.

Sobre el dominio público, la autocaravana, está sometida, mientras que es un vehículo, a las disposiciones del código de la carretera y del código de las colectividades territoriales".

Es la misma situación que en España. No hay una normativa, específica para las autocaravanas y, como vehículo, está sometido a las leyes de Seguridad Vial y a las disposiciones municipales que permite la Ley de Administraciones Públicas cuya competencia establece la propia Ley de Seguridad Vial.

A pesar de todo lo expuesto los usuarios de autocaravanas estamos afectados por criterios diferentes de diferentes administraciones. Como muestra tenemos algunos informes jurídicos y resoluciones de diferentes ámbitos de la administración pública, destacan entre ellos los de la Dirección General de Sostenibilidad de la Costa y del Mar, Organismo Competente para resolver en el ámbito administrativo un expediente incoado por una presunta infracción de acampada en el demanio marítimo-terrestre, en una denegación del recurso de alzada expone:

"En este sentido, el artículo 68.3 del Reglamento de Costas entiende por acampada la instalación de tiendas de campaña o de vehículos o remolques habitables. Así pues el Reglamento de Costas al desarrollar el concepto de acampada no lo limita al solo uso de tiendas de campaña sino que lo extiende a la instalación de vehículos habitables. De ello se deduce evidentemente que el hecho de estacionar para habitar y pernoctar en el interior del vehículo adaptado para vivienda, instalado dentro de la zona de dominio público marítimo terrestre se considera acampada".

El ponente de la resolución ni siquiera plantea la posibilidad de aplicar los criterios de las Leyes de Seguridad Vial sino que se ciñe exclusivamente a los criterios sancionadores de la Ley de Costas.

Del mismo modo la Directora de Turismo del Principado de Asturias, desestima las alegaciones presentadas a la propuesta de sanción por una presunta infracción de acampada en estos términos:
"El artículo 14.3 de la Ley 7/2001, de Turismo, vigente desde el 7 de julio del año 2001, prohíbe cualquier forma de acampada libre o no legalizada, entendiendo por acampada libre, la instalación eventual de tiendas de campaña, caravanas u otros albergues móviles con intención de permanecer y pernoctar en lugares distintos a los campamentos de turismo autorizados, prohibición que se extiende a todo el territorio de la Comunidad Autónoma, sin necesidad de la instalación de señales indicadoras al respecto para hacerse efectiva. De lo expuesto se desprende claramente que los hechos imputados se corresponden con una conducta perfectamente tipificada en la Ley de Turismo del Principado de Asturias no existiendo, por tanto, infracción alguna de los principios de legalidad tipicidad o seguridad jurídica, señalados por el imputado.

Respecto a la Instrucción 08/V-74, de la DGT. Se debe insistir en el hecho de que al presente procedimiento no es aplicable la normativa de tráfico al no ser el hecho imputado el estacionamiento del vehículo, cuya corrección no ha sido objeto de discusión, sino el haber pernoctado en el interior del mismo, fuera de los lugares legalmente autorizados, siendo de aplicación, por tanto, el artículo 14.3 de la Ley 7/2001 de Turismo del Principado de Asturias, ya señalado. Queda así patente la inexistencia de contradicción en la aplicación de la normativa de Tráfico y la no invasión de competencias propias del Estado.

La autocaravana como vehículo, está sometida a las leyes de Tráfico, en todo lo relativo a la circulación y a las maniobras de parada y estacionamiento, y su regulación corresponde ciertamente al Estado, sin embargo, como vehículo especial de categoría M, que incluye una zona habitable, debe estar sometida a la legislación turística (cuya competencia corresponde a la Comunidad Autónoma), en su consideración como alojamiento, pero esto no significa, en ningún caso, que la Ley de Turismo del Principado de Asturias convierta el vehículo en algo distinto por el hecho de pernoctar en su interior, ya que simplemente prohíbe la utilización del mismo, como alojamiento, fuera de los lugares autorizados".

No podemos menospreciar los argumentos de la administración que debemos conocer a fondo si queremos rebatirlos en cualquiera de los terrenos, político, administrativo o jurídico con el fin de que el pernoctar en una autocaravana sea una actividad que no esté sujeta a inseguridad jurídica que ocasione incertidumbre y sobresaltos a sus usuarios.

Cualquier vía legal es válida para defender los legítimos intereses de los usuarios de autocaravanas primando en primer lugar el diálogo con las administraciones y utilizando como argumentos la reclamación judicial y la presión social.

La presión social lícita en la reclamación para que se restablezca la legalidad frente a situaciones injustas y como medio para dar a conocer a la sociedad nuestra actividad y lo que consideramos nuestros derechos.

La vía judicial como argumento del diálogo y como fin en sí mismo si el diálogo falla. El problema que nos impide el uso libre y responsable de nuestros vehículos es de ámbito legal y, en última instancia, quienes deciden qué ley debe aplicarse al uso habitado de una autocaravana estacionada son los jueces.

Estas consideraciones nos llevan irremediablemente a tratar de establecer jurisprudencia en el Tribunal Supremo o en el Constitucional, puesto que si estamos persuadidos de que las Leyes de Seguridad Vial son las que hacen justicia al uso habitado de una autocaravana estacionada tenemos el deber de intentarlo utilizando los mejores medios que podamos disponer, y si no lo conseguimos, deberemos acudir al ámbito político para modificar las leyes o vender nuestras autocaravanas.

Cualquier solución que debamos aplicar tiene que partir necesariamente del sector. Los usuarios y profesionales necesitamos estar unidos en el camino si queremos disponer de las máximas posibilidades para conseguir los objetivos comunes, que solamente se podrán alcanzar en el ámbito de los grupos organizados, utilizando el análisis racional de las causas y los tratamientos consensuados a través del diálogo entre las asociaciones

Debemos asumir que ninguna vía excluye el empleo de otra siempre que no suponga un obstáculo para alcanzar un fin y que estas situaciones solo se podrán detectar a través de la comunicación y el consenso. Un fin que debemos tener siempre presente y que no es otro que avanzar en la eliminación de los obstáculos que impiden el uso libre y responsable de nuestros vehículos.

(1) L'Accueil des Camping-Car, Les Cahiers de l'AFIT, http://www.afit-tourisme.fr/


Arsénio Gutiérrez
http://www.viajarenautocaravana.com/


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