quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Uma aventura rumo ao Ártico: parte I

1.ª PARTE – ATÉ BERGEN NA NORUEGA

Partimos de Vila Franca de Xira rumo ao Cabo Norte, mítico local, considerado o ponto mais setentrional do Continente Europeu (71°10′21″N, 25°47′40″E).

Equipados para um mês de viagem, na nossa “casinha itinerante” não cabíamos em nós de expectativa e emoção. A estrada e a Liberdade que ela nos transmite como Autocaravanistas estavam ao nosso dispor por 30 dias.

Sem relógios nem hora marcada, a nossa viajem ficava condicionada apenas ao nosso próprio ritmo e interesses, salvo algum contratempo que pudesse acontecer.
Sem gps, foram os “velhinhos” mapas Michelin que foram ajudando na tarefa de encontrar o “norte”. E que norte nos esperava!

Não era a primeira grande viagem que fazíamos. Anos antes havíamos “zarpado” rumo a Istambul, num percurso de 12.500 km através de cerca de 2 dezenas de países. Mas na hora de uma nova partida, a “excitação” sempre reaparece.

Mas o Cabo Norte sempre esteve nos nossos “sonhos” de autocaravanistas. Dizia-se que, por lá, eram às centenas e que esse local era uma espécie de “Meca” para todos os amantes da modalidade.

Não nos arrependemos e, se pudéssemos, partiríamos hoje e agora, para rever aqueles lugares distantes que marcam inexoravelmente quem os visita.

A nossa primeira paragem “obrigatória” seria na Holanda. Os nossos filhos ainda pequenos queriam ficar por lá com os primos, em casa da minha cunhada, casada com um holandês. Foi assim que nos demoramos dois dias em Leeuwarden, na Friesland, no norte daquele país das flores, de diques e muitos canais, onde alguns naturais residem em barcos, e da extensa planície de verdes pastos, paraíso para as vacas e, nas cidades, para os ciclistas!


Pesarosos da separação, saímos pela Alemanha rumo à Dinamarca onde, no início da noite, chegaríamos a Frederickshavn a tempo de apanhar o 1.º de vários “ferryes” que teríamos de utilizar na ida e regresso da Escandinávia. À ida, a Dinamarca seria apenas um ponto de passagem. Só no regresso pretendíamos visitar a capital.

Do outro lado, já na Suécia, esperava-nos Gotenburg, depois de uma, relativamente curta viagem num mar algo “encapelado” pelo vento que se fazia sentir. A luminosidade difusa sentida àquela latitude pelas 24 horas fazia-nos já sentir um “cheirinho” do Sol da Meia-noite que ambicionávamos alcançar para lá do Círculo Polar Ártico.

Depois de sairmos do porto rumámos para norte e, cerca de 2 horas depois, cansados, parámos numa área de repouso, bem cuidada, com wc e informações turísticas que consultámos na manhã seguinte.

Foi com um sol radioso que acordámos dispostos a prosseguir a nossa viagem cuja escala estava programada para Oslo, já na Noruega, esse país dos vikings, estreita faixa de terra montanhosa que o mar “rasga” e de onde nos vem o “nosso” bem querido bacalhau.

Por entre uma paisagem lindíssima e uma vegetação diferente daquela que encontramos aqui no sul, chegámos à periferia da capital, onde uma entrada de carro vale uma portagem. Os noruegueses levam muito a sério a protecção ambiental. Apesar de produtores de petróleo, a Noruega tem o combustível, quiçá, mais alto da Europa.

Assim, aparcamos a AC num camping, cujo nome já não recordo, mas relativamente próximo da cidade e localizado junto a um “braço” de mar, num belo recanto de águas calmas, com uma pequena praia e floresta.

No dia seguinte, logo pela manhã, feita a higiene nas instalações do camping, partimos de “bus” para o centro da cidade. Gostámos, particularmente, da zona da marina, com centenas de embarcações de recreio, esplanadas e os jardins com estatuária extraordinária.


No final do dia, exaustos, regressámos à nossa “casinha” para, depois de um justo descanso de uma noite bem dormida, seguirmos pelo interior, rumo à cidade de Bergen, que nos recebeu numa área especificamente criada para AC (Bobil Senter) onde, para além do despejo, abastecimento, electricidade, dispunha de balneário para duche quente, tudo por uma quantia razoável paga ao guarda do local.

Ainda, nesse dia, fizemos um pequeno reconhecimento da cidade, já que a AS ficava a menos de 10 minutos a pé do centro. Bergen chegou a ser a sede da poderosa Liga Hansiática, entidade que dominou todo o comércio no báltico.
Aproveitámos, então, para comprar os bilhetes “combinados” que nos levariam, no dia seguinte, até Fläm, primeiro num comboio normal até Myrdal e daí, para o “berço” do Sognefjord no Flamsbana (http://www.flaamsbana.no/eng/Index.html), um comboio especialmente concebido para descer, em 20 km, os cerca de 1000 metros de altitude que separam Myrdal das águas do “fjord” onde fizemos, em catamaran um cruzeiro de regresso a Bergen.


A descida de comboio é simplesmente espectacular e emocionante, por entre trilhos íngremes, bordejando precipícios, atravessando túneis e parando para fotografar deslumbrantes quedas de água, o Flamsbana deixa-nos uma sensação de aventura inesquecível.


Cá em baixo, esperava-nos Fläm, pequena localidade ponto de partida para outra aventura e outros deslumbramentos. Situada no “fundo” da garganta do fiorde, dela partem (e chegam) diversas embarcações que sulcam as calmas águas de um dos principais fiordes noruegueses. No bilhete “combinado” que adquirimos optámos por regressar a Bergen num catamaran e não ficámos desiludidos.
Confortável, relativamente rápido, permite uma visibilidade para o exterior que se adequa às “necessidades” fotográficas do “turista”.
A paisagem é magnífica e poderosa. Sentimo-nos brutalmente diminutos perante a grandiosidade da “mãe” Natureza. A entrada em Bergen pelo mar, ao fim da tarde, foi igualmente bela, mas já nostálgica.
O dia seguinte reservámo-lo para uma visita mais demorada à cidade. O bairro antigo de arquitectura única, património da humanidade, título obtido da UNESCO em 1979, é um dos ex-libris desta cidade que já foi a capital da Noruega.



A subida de funicular ao monte Floyen onde um miradouro domina a cidade dos “trols”, é outro ponto a não perder. Do cimo dos seus 320 metros conseguimos uma panorâmica única sobre a cidade e arredores. Em baixo, podemos encontrar por perto o conhecido “mercado do peixe” que vende, igualmente, marisco, frutas e flores, num colorido único, a merecer uma visita obrigatória.

Ficámos com vontade de por lá continuar, mas o calendário não nos permitiria tal ousadia se quiséssemos alcançar o “norte”. Assim, no dia seguinte, empreendemos um estratégico retorno à Suécia, país que escolhemos como “auto-estrada” rumo ao Cabo Norte.
Foi com muita pena que não prosseguimos pela recortada costa norueguesa. Mas tal implicaria muito tempo e custos acrescidos pelo custo superior do gasóleo e pelos inúmeros “ferryes” que teríamos que tomar. Um dia, se pudermos dispor de tempo ilimitado e orçamento adequado, gostaríamos de voltar lá usando a costa norueguesa, já que temos consciência que muito ficou por apreciar.

(continua)

Laucorreia

Sem comentários: